NAQUELE FIM DE SEMANA, DE SARAH ALDERSON
“Naquele fim de semana” desenvolve uma narrativa sobre o desaparecimento de uma de duas amigas, que resolveram passar um fim de semana em Portugal. Trata-se de um romance com as características básicas de uma história detetivesca, mas com certas diferenças. Relacionadas ao fato de que a autora é roteirista e de séries famosas da televisão, como S.W.A.T. O que significa que a ação será o instrumento principal da história. E a celeridade das ações e dos diálogos garante uma espécie de tensão que acompanha o leitor até o final desse livro. Já seduzido por uma trama bem construída e um roteiro muito bem elaborado.
A autora, com mais de 20 livros editados, nos convida a partilhar os sentimentos e emoções da personagem principal de “Naquele fim de semana”. Completamente envolvida em fatos estranhos, que se deslindam aos poucos. E chegam a um final imprevisível. Leitora apaixonada de romances policiais, resolvi me deter na comparação das características da literatura detetivesca e o livro de Alderson.
E me apoio em P.D. James, uma das maiores escritoras inglesas de romances policiais. Em seu livro “Segredos do romance policial” ela afirma: quando os romances têm um crime atroz para ser explorado e investigado, abrangem um aspecto “excepcionalmente amplo da imaginação literária, compreendendo algumas das obras mais elevadas da criação humana”. Ela lembra o escritor Graham Greene, que havia inicialmente separado seus livros entre os sérios e os de entretenimento. Mais tarde ele recusa essa dicotomia. Admitindo o estilo literário de alto nível dos romances policiais. Além do fato de obedecerem a uma estrutura altamente organizada e de convenções estabelecidas.
Em “Naquele fim de semana” há um crime central misterioso, um círculo de suspeitos, meios e oportunidades. Difere do romance policial clássico porque não existe um detetive. A figura imprescindível do investigador, sua forma de atuação e o desenvolvimento do processo investigativo, são as cores que animam o caso. Juntamente com uma perfeita descrição de cenários, costumes e ambiente externo, que caracterizarão a realidade social na qual se passa a ação. Cada detalhe é importante. E esse detalhismo enriquece a leitura. Pois os romances policiais costumam retratar a civilização, diz James. No livro de Alderson não se encontra essa descrição. Lembrando mais um vez que ela é roteirista. O tempo não é seu aliado, senão um elemento ao qual ela deve estar atenta. Procurando nele equilibrar a narrativa.
As pistas são um importante componente das histórias policiais. E o autor deixa pistas que, embora honestas, podem ser enganosas. Como a fuga dos rapazes contratados pela amiga desaparecida e inicialmente os suspeitos. E sempre há um conflito perpassando os acontecimentos. No caso de “Naquele fim de semana”, ele era intuído, mas não compreendido ou conscientizado pela personagem principal. Somente mais tarde ele é descoberto em toda a sua violência e amplitude.
Nos romances policiais o processo de dedução acompanha todas as fases da história. E a lógica fundamenta os raciocínios e a solução final. Deve haver verdade naquilo que se narra. Verdade nos personagens. E embora estruturado sob certas convenções, o romance policial deixa importante e significativa margem a criatividade. Alderson apresenta uma trama muito criativa. Nela a personagem e um amigo tentam resolver o problema. No entanto, a ênfase não é o processo de investigação em si. Mas a desordenada série de acontecimentos que circundam os personagens. Essa é a falta para quem gosta de romances policiais.
Umberto Eco, em uma de suas crônicas, fala sobre esse tipo de literatura. O espanto que causou saber que um famoso escritor ao morrer, deixara uma coleção de cerca de 900 romances policiais. O fato é que os intelectuais gostam desse tipo de leitura, diz ele. E explica: primeiro, há sempre uma pesquisa que foi desenvolvida para a história. Depois, as perguntas: quem, por que – estimulando profundas indagações de caráter filosófico. Por fim, a história sempre estará ao alcance, podendo ser revista em seus questionamentos.
No livro de Sarah Alderson, “Naquele fim de semana”, há questões interessantes relacionadas a nossa cegueira psicológica. Como se nos recusássemos a ver a realidade. Tal como a personagem, não conseguindo alcançar a compreensão do que se passava debaixo de seu nariz, quanto a traição do esposo. Por outro lado, a narrativa insiste em lembrar o que pode haver de grave e irrecorrível nas decisões tomadas impulsivamente, ou quando nos submetemos à vontade de outros, sem o devido raciocínio e a segurança pessoal. E, por fim, de como a vida é sujeita a mudanças profundas em curto espaço de tempo. Ao final, a grande questão: conhecemos, efetivamente, aqueles que nos rodeiam intimamente?
Por Luiza Cavalcante Cardoso (cadeira 2) – Letras – Patrono: Rui Barbosa