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O livro de Daniel Keyes, Flores para Algernon vendeu mais de 5 milhões de cópias. Um livro instigante e muito reflexivo, cheio de questionamentos que leva o leitor a pensar sobre si próprio, sobre suas relações interpessoais, e principalmente, sobre experimentos em nome da ciência que sobrepõem a ética e respeito pelo ser humano. Um livro fascinante que prendeu minha atenção do começo ao fim.

O livro tem como personagem principal Charlie Gordon, de 32 anos, que possui um Q.I. muito baixo do normal e sonha em se tornar mais inteligente. O personagem tem uma grande dificuldade de aprendizado, e, por outro lado, uma grande facilidade em esquecer qualquer tipo de ensinamento.

Seu desejo em ser mais inteligente está ligado à sua vontade de se comunicar com a mesma desenvoltura das pessoas que o rodeiam e poder fazer amigos que gostem dele.

Charlie é um personagem cheio de bondade e pureza de sentimentos e o tempo todo busca se relacionar com um mundo tão adverso ao seu entendimento. É constantemente motivo de chacota e preconceito entre os amigos da padaria onde trabalha como ajudante de serviços gerais. A forma como o livro aborda este contexto fica muito claro a maneira como as pessoas tidas como mentalmente deficientes sofrem discriminação. É triste constatar isto por meio do olhar de uma pessoa com deficiência de Q.I, como Charlie, mesmo sendo um personagem fictício. Ao despertar da própria inteligência, constata o quanto em sido motivo de riso perverso e maldoso por aqueles tidos como seus amigos.

Em sua narrativa, Charlie relata situações de bullying por não se enquadrar no padrão esperado pela sociedade. Esta situação começa desde cedo, em suas relações familiares, onde sua mãe e irmã o rejeitam ostensivamente, como sendo motivo de vergonha, por ele não corresponder às expectativas de uma criança normal.

Devido sua deficiência intelectual, Charlie foi convidado para ser cobaia em uma cirurgia totalmente inovadora, nunca tentada anteriormente, e que prometia aumentar seu nível de inteligência. O sucesso da cirurgia era uma incógnita, pois os testes só haviam sido feitos em um rato, cujo o nome era Algernon. Influenciados pelos bons resultados no rato, os cientistas resolveram fazer a experiência em humanos, escolhendo Charlie para o grande experimento.

O livro é como um diário, onde Charlie registra seu desenvolvimento intelectual a partir da cirurgia ao qual foi submetido. A narração de Charlie por meio da escrita, começa cheia de erros de ortografia e coesão de pensamentos e vai mudando à medida que o tempo passa, onde Charlie é constantemente submetido a testes e leituras para desenvolvimento de seu novo potencial de inteligência.

O personagem começa a ver o mundo que o rodeia com outros olhos, e aos poucos vai demonstrando uma grande e significativa melhora em seus registros, seja por meio da escrita como também na forma cognitiva de expressar sua nova vivão de mundo, deparando-se com novas realidades que até então haviam passado desapercebido ao seu entendimento. Estas novas realidades o fazem questionar sobre sua vida, gerando decepções e frustrações. Aos poucos Charlie vai perdendo sua pureza e inocência, desenvolvendo novas formas de se relacionar com as pessoas e com tudo que o cerca. Seu QI muito elevado, após a cirurgia, dificultou ainda mais suas interações sociais – Charlie não sabia discernir sentimentos como raiva e tristeza e isto gerou uma explosão de emoções contraditórias, fazendo com que ele se sentisse muito solitário, não se reconhecendo mais como pessoa que era, nem a qual se transformara.

O livro suscita muitas indagações: Como fica questões como moral e ética ao usar um ser humano em experimentos inconclusivos que podem causar danos irreparáveis? O conhecimento pleno gera felicidade? A inteligência emocional caminha lado a lado do conhecimento acadêmico? O que é mais importante para a sociedade? A inteligência ou as emoções? É possível ser feliz desvinculando estes dois aspectos? Nós estamos preparados para conviver com nossas próprias transformações intelectuais sem mudar nossa essência? Estamos preparados para aceitar o outro diferente daquilo que idealizamos?

O final é surpreendente, deixando evidente que ninguém consegue fugir da essência do que realmente é. A sociedade precisa despir-se urgentemente de seus estereótipos, aceitando as diferencias, para que cada ser humano viva dentro de sua própria plenitude com amor e dignidade.

Por Custódia Wolney – Patrona Rachel de Queiroz – Cadeira 19