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Nos últimos anos chegaram às minhas mãos trechos de “O Arco e a Lira”. Neles se afirmava, acerca das palavras: “Nós somos o seu mundo e elas são o nosso (…) As redes de pescar palavras são feitas de palavras.” (p.37). E se esclarecia: “Coisas e palavras sangram pela mesma ferida” (p.35). Seu autor declarava que “A categoria do poético (…) não é nada mais que um dos nomes do sagrado” (p.203). Indaguei-me: será por esse motivo que sentimos emoções devastadoras ao ler um poema?

​“O Arco e a Lira” é um tratado literário pleno de alusões filosóficas, históricas e poéticas. Seu autor, poeta e ensaísta mexicano, embaixador, prêmio Nobel da Literatura em 1990. A obra busca responder a três questões: “há um dizer poético – o poema – irredutível a qualquer outro dizer? o que dizem os poemas? como se comunica o dizer poético?” (p.30). A obra está organizada em três partes: O Poema; A Revelação Poética; Poesia e História.

Octavio Paz afirma que “A poesia vive nas camadas mais profundas do ser (…)” (p.49) e se nutre de um complexo jogo de influências, tendo simultaneamente um valor plástico e sonoro, afetivo e significativo. Segundo ele, é possível haver poemas que não contêm poesia, assim como “paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas” (p.16). E esclarece: “O poema é um organismo verbal que contém, suscita e emite poesia” (p.17).

O autor indaga acerca do misterioso jogo entre criador e criatura, em que “a voz do poeta é e não é sua.” (p.191)? De quem é essa voz? Da musa, do espírito, do consciente, do gênio, da razão, da sociedade? Que abismo é esse do qual brota a inspiração? “O poeta é ao mesmo tempo objeto e sujeito da criação poética” (p.202). “Antes da criação, o poeta como tal não existe. Nem depois. É poeta graças ao poema. O poeta é criação do poema tanto quanto este daquele” (p.205).

“O Arco e a Lira” nos convoca a adentrar os mistérios da Poesia, sua voz, tessitura e sacralidade. E, quiçá, decifrar a indagação inicial da obra: “não seria melhor transformar a vida em poesia do que fazer poesia com a vida?”

Por Maria Alexandra Militão Rodrigues (cadeira 82) – Letras – Patrono: Manoel de Barros