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Relatório de Gestão
Presidente: Meireluce Fernandes

2021-2022

Reunião Ordinária da AlMUB - 04/05/24

Reunião ordinária da ALMUB, realizada em 04.95. 2024, na casa da acadêmica Ariadne, com a presença de grande parte dos acadêmicos.

15/07/23 - Resultado do Concurso de Poesia Almub

RELAÇÃO DE POEMAS VENCEDORES – Concurso Almub/2023

FLORAÇÃO (1º lugar) -Elvira Drummond

 

Ainda que capine a dor no peito

e extirpe todas ervas tão daninhas, 

não posso remover das “terras minhas”

alguns ressentimentos… (de que jeito?)

 

Ainda que revolva o campo eleito

à cata de vegetações mesquinhas, 

a força de tais plantas, se vizinhas, 

parece enraizar o meu defeito.

 

Mas quero, ao adubar o meu terreno, 

que a terra se renove no sereno, 

que o céu, lacrimejando, lave o chão. 

 

Que a graça de orvalhar cada esperança 

devolva a luz… (quem sabe a vista alcança) 

e traga um novo tempo em floração! 

 

 

RESILIÊNCIA (2º lugar) – Janete Sales

 

Escolho ser feliz e, assim, sorrio,

mesmo diante de um perigo eterno,

nunca temi a solidez do inverno,

jamais me entregarei ao que é sombrio.

 

Escolho ser feliz e eu me recrio,

não dou poder ao desamor externo,

onde existe o ódio, oferto o abraço terno,

hei de encontrar a redenção no estio.

 

Nas horas em que a agrura resplandece,

olho o elevado e teço a minha prece,

sei que um milagre vai acontecer!

 

Nas horas de tamanha privação,

procuro olhar o céu, em vez do chão,

sei que, depois, virá o amanhecer.

 

DECLÍNIO (3º lugar) – Geisa da Silva Moreira Alves

 

Apura-se a certeza, de ano em ano,

que tudo se corrompe e, ao fim, caminha.

Declinam-se, na urgência comezinha,

as asas com que voa o anseio humano.

 

O tempo apaga a luz e desce o pano;

a brevidade logo se adivinha…

A tarde passa em triste ladainha,

ceifa a esperança e arrasta o sonho lhano.

 

O voo que começa nos cenários

de luz, de brilho e sol, de gozos vários 

bem cedo encontra as horas de mudez.

 

Enquanto assim sucede, eu entrevejo:

no abrir dos olhos foge todo ensejo,

o riso de ontem o hoje já desfez!

 

VELHO CUCO (Menção Honrosa Especial) – Arlindo Tadeu Hagen 

Na sala, o velho cuco bate as horas,

com a mesma precisão que vai marcando

o espaço entre os ocasos e as auroras,

no compasso em que a vida vai passando.

 

Velho cuco, na sala onde tu moras,

nem chegas a notar, de vez em quando,

que a vida, alheia a atrasos e demoras,

no dia a dia foi me abandonando.

 

Na poltrona do velho casarão,

o relógio me causa irritação

e o canto pontual me põe maluco.

 

Fiquei sozinho, ao fim do meu viver,

e, indiferente a todo o meu sofrer,

bate as horas, na sala, o velho cuco.

 

INVENTANDO O AMANHECER (M. Honrosa Especial) – Francisco Ribeiro Lima

 

Quando, em seu firmamento, faltar cor…

e, na luz do seu sol, faltar clarão…

em seus versos de amor faltar olor,

pinte um sonho de amor no coração. 

 

Se, em seus dias, restarem só a dor…

se, em seu rumo, faltar a solução…

se, em seu bosque, não tem mais beija-flor,

pinte seu arco-íris em novo chão. 

 

Se, em seu céu, não tem mais seu paraíso…

e o seu peito impedir o seu sorriso…

haverá novo sonho a florescer.

 

Pelos prados que geram nova vida,

quando o sol mata a noite empretecida,

inventando outro novo amanhecer.

 

 

MEMÓRIA DA CASA (Menção Honrosa) – Elias Antunes

 

Não se rompe o silêncio

apenas com palavras,

é preciso dizer as coisas,

dizer as pedras,

os tijolos e os muros;

é preciso dizer o lago,

o labirinto, o abrigo das mãos

e o rosto na despedida,

é preciso dizer

os escombros de um homem,

é preciso dizer o pássaro azul

e suas árvores incendiadas,

é preciso dizer as cigarras

domesticadas nos poemas;

é preciso dizer os quintais

no crepúsculo;

é preciso dizer a chuva

dentro do peito,

e os pequenos mamíferos 

vivendo nos recônditos da casa:

é preciso dizer a casa e 

a memória.

 

VERSOS-PÁSSAROS (Menção Honrosa) – Ismar Lemes

 

Trago em meu peito

pássaros, poemas e canções de outrora.

 

Às vezes na frialdade da noite, saem para aquecer outros corações.

 

Já minha melancólica alma vaga

à procura das reentrâncias do tempo que o tempo tem.

 

O sol arde, anunciando

o amanhã

e penetra pelas frestas.

 

Então regressam

e novamente acomodam-se

em meu peito.

 

Contemplativo,

sonho com os rios

e ouço o cantar dos pássaros.

 

Desfaço-me em versos

e refaço-me em canções

de outras eras.

 

AO TEMPO (Menção Honrosa) – Paulo Lucas santos Fares

 

“Nada resiste ao tempo.” Assinalou Balzac;

Também o diz Machado em ironia arguta.

E tantos outros… Proust – que fez a sua luta

Vencer contra, do tempo, o assustador ataque…

 

De tal modo que um bem, que em nossa vida atraque,

Rapidamente esvai-se – e não mais se desfruta…

E lhe sucede o mal, da saudade a labuta;

E nos resta afogar o pranto num conhaque…

 

E mesmo este soneto, escrito, com fervor,

Em verso alexandrino, em refinado esmero,

Há de um dia morrer – como se morre a flor…

 

Pois o tempo é fatal, e os nossos sonhos fere!

Assim nos esclarece o sábio – desde Homero

Até a pena mordaz de Charles Baudelaire…

 

QUANDO EU ME FOR (Menção Honrosa) – Gilliard Santos da Silva

Eu deixarei a minha poesia

Que foi, por toda a vida, trabalhada…

E ficarão registros desta estrada, 

Do que lutei e do que fui um dia.

 

Confesso, a cada texto que escrevia,

Eu tinha, aos poucos, a alma revelada…

E de maneira não arquitetada,

De fato, mais e mais eu me despia.

 

Mas, pondo na balança o que vivi

E tendo em conta o quanto produzi,

Não haverá, de certo modo, um fim.

 

Não é que eu reivindique alguma glória,

Porém, nas espirais da nossa História,

Os meus poemas falarão por mim.

 

 

SINFONIA DO OCASO (Menção Honrosa)

Izemar Fernandes Batista

 

 

Leve lembrança da vida. Suave neblina.

Fina flor pendida num rútilo ocaso,

Raízes à mostra num quebrado vaso,

Doce rosa febril, ferida. Triste sina.

 

Agonizava ao vento solto da campina,

Preconizando estrelas, preluzindo a Lua,

Abraçando a noite como se fosse sua,

Resvalando para o abismo da ruína.

 

Perdeu os astros, a Lua, as nebulosas

E, seguindo o destino de todas as rosas,

Desfolhou-se, enfeitando o chão em agonia.

 

Fiquei olhando tudo esmaecida e só,

Vendo-me, também, definhar e virar pó,

Ouvindo eflúvios de plangente sinfonia.

Resultado do Concurso de Poemas realizado pela Almub-Academia de Letras e Música do Brasil, conforme Edital nº 01/2023-Almub. Nossos agradecimentos à Comissão de Avaliação e a todos que participaram do certame, acrescidos de efusivos cumprimentos a todos os contemplados.

Primeiro lugar: Elvira Glória Drumond Miranda (CE), com o poema Floração.
Segundo lugar: Janete Francisco Sales Yoshinaga, (SP), com o poema Resiliência.
Terceiro lugar: Geisa da Silva Moreira Alves (RJ), com o poema Declínio.

Menção Honrosa Especial: Arlindo Tadeu Hagen (MG), com o poema Velho Cuco.
Menção Honrosa Especial: Francisco Ribeiro de Lima, (RN), com o poema Inventando o Amanhecer.

Menção Honrosa: Gilliard Dantos da Silva (CE), com o poema Quando eu me For.
Menção Honrosa: Ismar Domingos Lemos de Abreu (DF), com o poema Versos-pássaros.
Menção Honrosa: Izemar Fernandes Batista (DF), com o poema Sinfonia do Ocaso.
Menção Honrosa: João Elias Antunes de Oliveira (DF), com o poema Memória da Casa.
Menção Honrosa: Paulo Lucas Santos Fares (PE), com o poema Ao Tempo.

COMISSÃO JULGADORA

Avaliador 1 – Basilina Pereira: professora de Português, advogada, escritora, poeta e sonetista, Diretora de Letras da Almub-Academia de Letras e Música do Brasil.
Avaliador 2 – Maria de Lourdes Fonseca: escritora, poeta, administradora de empresas e Tesoureira da Almub-Academia de Letras e Música do Brasil e membro de várias outras academias.
Avaliador 3 – Gacy Simas: escritora de Brasília, Professora com larga experiência e Presidente da ALB- Academia de Letras do Brasil/ Seção DF.
Avaliador 4 –Edir Pina de Barros: escritora, sonetista, membro fundador e integrante da diretoria da Abrasso – Academia Brasileira de Sonetistas, formada em Ciências Sociais pela UNB, doutora e pós-doutora pela Universidade de São Paulo.
Avaliador 5 -Meireluce Fernandes: professora de Português, poeta/escritora, doutora em Ciências da Terra e Vice-Presidente da Almub-Academia de Letras e Música do Brasil.
Todas com larga experiência no campo da Literatura, competência comprovada e vasta experiência em avaliação de concursos.

Muita emoção, saudade de quem representou com muita honra a Almub. Nosso coração está de luto, o nosso acadêmico, Edison Sauguellis partiu.

6. Recital virtual da ALMUB e posse dos novos acadêmicos da ALMUB, os músicos Daniel Marques e Janette Dornellas, a realizar-se dia 11.04.2021, às 18 horas
Última atualização: 10/04/2021 

A Presidente da Academia de Letras e Música do Brasil, Meireluce Fernandes da Silva, convida para o Recital virtual da ALMUB e posse dos novos acadêmicos da ALMUB, os músicos Daniel Marques e Janette Dornellas, a realizar-se no próximo domingo, às 18 horas. O evento de posse será transmitido pelo canal do YouTube da ALMUB (https://www.youtube.com/channel/UCuKzfuEKf65EXG3xWz1Erzg).

DANIEL MARQUES
Violista da OSTNCS e do Quarteto Capital desde 2005, é Bacharel em Música pela Universidade de Brasília. Foi vencedor de alguns prêmios nacionais e integrou a Orquestra Jovem das Américas em 2006. Atua também como produtor, conduzindo diversos projetos músicas.

JANETTE DORNELLAS
Soprano
Doutora na UnB, formada em Canto pela UnB, Licenciada em Música pela Católica e Mestre em Música pela Universidade de Goiás. Cantou nos mais importantes teatros nacionais e internacionais. É professora de Canto Lírico da Escola de Música de Brasília e Diretora Artística da Casa da Cultura Brasília.

Programa:

Viola: Daniel Marques
Piano: Luiza Aquino
1. Poema – Marlos Nobre
2.Morpheus – Rebecca Clarke
3. Lua Branca e O “Corta-Jaca” – Chiquinha Gonzaga – Arranjo: Francisca Aquino e Ricardo Vasconcellos
4. Gosto de Brasil – Francisca Aquino e Ricardo Vasconcellos

Voz: Janette Dornellas
Piano: Francisco Bento
O Del Mio Dolce Ardor – Christoph Willibald Gluck
Acalanto da Rosa – Vinícius de Moraes e Cláudio Santoro
Canção do Amor (suíte sinfônica A Floresta Amazônica) – Dora Vasconcellos e Heitor Villa-Lobos
Vissi d’arte – ária da ópera Tosca de Giacomo Puccini

5. ALMUB PREMIADA COM O CERTIFICADO DE “APOIADOR CULTURAL 2020” DA ANCEC
Última atualização: 17/11/2020

A ALMUB recebeu, com muita alegria e orgulho, no dia 9/11/2020, o Certificado de “Apoiador Cultural 2020” da ANCEC – Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação. A cerimônia foi realizada presencialmente em Brasília e a ALMUB foi representada pelos acadêmicos: Meireluce Fernandes da Silva (cadeira 13 – Letras – presidente eleita para o biênio 2021 – 2022) e José Carlos Ferreira Brito (cadeira 30 – Letras).

4. RESULTADO DO 1º CONCURSO DE CONTOS ALMUB – 2020
Última atualização: 30/08/2020

VENCEDORES

1º lugar – Maria Luíza Vargas Ramos, com o conto Renascimento;

2º lugar – André Luiz Soares, com o conto Destinos e Clichês;

3º lugar – Ronaldo Dória dos santos Jr., com o conto O Visitante.

MENÇÕES HONROSAS

1. Luciana de Gnone, com o conto No Topo do Mundo;

2. Iara Margolis Ribeiro, com o conto Duas Guerras – Uma Vida;

3. Renato José Oliveira, com o conto Tio Creso;

4. Sinval farias, com o conto O Bordado pelo Avesso; e

5. Hélio Socolik, com o conto Um Homem no Escuro.

DESTAQUE PARA OS FINALISTAS

1. Luiz Henrique Aguiar , com o conto Juliano e o Rádio Transmissor;

2. Valesca dos Santos Pederiva, com o conto Diário de Um Náufrago.

JURADOS

Basilina Pereira – Professora de Português aposentada, advogada, com Especialização em Processo Civil, escritora e poeta. Já publicou 12 livros, sendo oito de poesia, um de contos, um romance e dois e-books de poeminis. Faz parte de 10 academias, incluindo a Academia de Letras e Música do Brasil, da qual é a atual Presidente. É detentora de vários prêmios nacionais e internacionais.

Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca, conhecida nos meios literários por Lolô Fonseca, é paraense, graduada em Administração de
Empresas, com pós-graduação em Marketing Executivo e Marketing de Varejo, pela Fundação Getúlio Vargas- FGV. É autora de “Soprando no Coração”, “Casos de Casas” e de “O Renascer de um Príncipe”. Integra importantes instituições literárias de Brasília, dentre elas a Academia de Letras e Música do Brasil – Almub. Tem trabalhos publicados em várias coletâneas.

Meireluce Fernandes da Silva – Escritora, poeta, formada em Letras, Mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília- UnB e PhD em Ciências da Terra, pela Bircham International University. Tem 11 livros publicados. É vice-presidente da Academia de Letras do Brasil- ALB/DF e Diretora de Letras da Almub.

Newton Lima – É poeta e compositor brasiliense, licenciado em Pedagogia pela Universidade de Brasília-UnB. Em 2003, foi o segundo colocado no Prêmio Criatividade do GDF, com o poema Terceira Visão, título do seu livro de poesia publicado em 2012. Já lançou 2 álbuns musicais: Linha da Fronteira e Histórias Urbanas. É acadêmico da Almub, onde ocupa a Cadeira 89.

Vânia Gomes -É mineira de Belo Horizonte, mas vive em Brasília desde 2001. É bióloga, escreve poemas, contos e crônicas. Adora ler e sua aventura pela escrita é pautada por estudo e muita leitura. Já publicou dois livros, um de contos e outro de crônicas. Ocupa a Cadeira Nº 45 na Academia de Letras do Brasil, seccional DF (ALB-DF) e a Cadeira Nº 16 na Academia de Letras e Música do Brasil(Almub). Já foi Editora-assistente no portal Crônicas da KBR.

4.1. CONTO CLASSIFICADO EM PRIMEIRO LUGAR NO 1º CONCURSO DE CONTOS ALMUB – 2020

RENASCIMENTO
De Maria Luíza Vargas Ramos

Como escolher alguém para amar? A quem destinar aquela enxurrada de sentimentos que a consomem desde a adolescência, quando lhe tiraram as bonecas com a promessa de as substituírem por rosados bebês? Aqueles olhares pedindo colo, os bracinhos estendidos em sua direção e a vontade de ficar com todos para si, de preencher sua solidão com um daqueles corpinhos pequenos, tão carentes de afeto quanto ela. Tinha sido bem difícil chegar até ali, sem aliança no dedo e braços fortes a ampará-la, mas ela conseguiu provar que era capaz e que tinha todas as condições de amar e educar uma criança sozinha. Acariciando um a um ela foi seguindo pelo quarto amplo cheio de bercinhos. Aos poucos, seu coração ia se enlevando e não era fácil desviar os olhos daqueles rostinhos curiosos e até de alguns sorrisos. Tinha colocado na ficha do cadastro que preferia uma menina ainda bebê para ser a sua companheira na vida. E as meninas eram tantas e tão lindas! Quem poderia ajudá-la numa escolha tão decisiva e importante? Apertou a medalhinha de Nossa Senhora por debaixo da blusa e pediu orientação divina. Chegou ao fim do corredor e deu meia volta disposta a repetir o trajeto tantas vezes quanto necessário, até receber algum sinal de que ali estava o filho que a natureza não lhe dera. O coração tiquetaqueava no peito, as mãos estavam úmidas e sua bolsa chegou a escorregar do ombro. Ela sentia mais ou menos o que as mães sentem quando adentram à sala de parto. Foi no momento que se abaixou para pegar a bolsa do chão que seus olhos se encontraram. Por um instante o mundo parou de girar, sua boca entreaberta calou e as mãos procuraram aquela mãozinha pequena que segurava a grade do berço olhando fixamente para ela. O silêncio era tão profundo que dava para ouvir as paredes respirando ao redor. Segurando firmemente sua mão, a criança continuava a encará-la e ela então teve a certeza de que ali estava o seu filho. Só depois constatou que era um menino, que não tinha cabelos loiros como os dela, nem correspondia às características físicas que sua imaginação criara, do mesmo jeito que nos filhos gerados não se escolhe traços, nem personalidade. A gente sente. E basta. De repente, o sol saltou sobre o telhado e o futuro chegou, avassalador, naquele corpinho franzino que se aconchegou em seu colo.
Nunca entendeu como alguém podia abandonar um filho daquele jeito. Certamente estando sob o efeito de drogas, ou com uma insensibilidade genética. Tantas mulheres fazendo sacrifícios imensos para engravidar e outras despejando no mundo crianças geradas sem intenção, frutos do prazer momentâneo e de muita irresponsabilidade. Poucas informações constavam da ficha daquele ser tão pequeno que ela trazia já aninhado em seus braços. Ele não era mais um bebê, como ela sonhara, devia ter uns quatro ou cinco anos, talvez até um pouco mais, no entanto seu corpo miúdo e seus olhos sérios evidenciavam carências de toda ordem. Ele a escolhera e ela se considerou incapaz de pensar em adotar outra criança que não aquela. Seria como abandonar seu próprio filho. Só sabia que ele tinha sido recolhido vagando sozinho pelas ruas, falando poucas palavras, sem saber de onde viera nem quem eram seus pais. Estava bem vestido, sem evidências de desnutrição ou maus tratos, todavia uma tristeza pungente o deixava mudo o dia todo e nada parecia lhe interessar. Muitas tentativas o Juizado de Menores fez para tentar encontrar sua família, no entanto foram em vão. Nada parecia se encaixar no difícil quebra-cabeça da história daquela criança que só sabia dizer seu nome: Cristóvão.
Um quarto seu, brinquedos novos, comida gostosa, roupas e, sobretudo, um amor guardado há tanto tempo fizeram com que a infância de Cristóvão fosse quase normal. Alguns pesadelos, muito medo de escuro, desconfiança e ausência de sorrisos foram aos poucos sendo neutralizados por aquela mãe só bondade que a vida lhe trouxera. Agora nenhum dos dois seria mais só no mundo. E o amor foi crescendo, envolvido em cumplicidade e coragem até se sentirem realmente pertencentes um ao outro. Vencidos os primeiros entraves na comunicação, o menino foi se destacando na escola, obtendo bons resultados e até fazendo amigos. A mãe, realizada, apertava a medalhinha de Nossa Senhora agradecendo a indicação certeira na escolha do seu filho. E assim Cristóvão cresceu, tornou-se um adolescente cheio de espinhas, com voz semitonada, fome de leão e vontade de conquistar um futuro para si. A mãe já apresentava linhas no rosto, fios de prata nos cabelos e um corpo mais lento e avantajado como a maioria das mulheres da idade dela. E eles nunca tiveram dúvidas de que eram mãe e filho e tinham mesmo que se encontrar. Muitas vezes Cristóvão pensara em sua origem biológica, em quem teriam sido seus pais, por que o tinham abandonado, no entanto, alguns meses de terapia o auxiliaram a aceitar melhor sua condição, sem revolta. Restou apenas uma curiosidade lá no fundo, geralmente sufocada pelos cálculos matemáticos e pela música de Milton Nascimento. Aprovado em primeira chamada para o curso de Engenharia de uma Universidade pública, Cristóvão se formou com brilhantismo depois de quatro anos. Não foi Orador, porque continuava pouco afeito a ser o centro das atenções e era bastante reservado, mas certamente foi um dos melhores alunos. Sua mãe chorava na plateia, com um orgulho que não cabia no peito. Seu filho era um homem, um homem admirável!
Não foi difícil para Cristóvão ser aceito numa grande empresa de construção, a partir do seu Histórico Escolar e das entrevistas. Profissionalmente, sua vida estava sendo bem resolvida e ele pretendia crescer muito em sua profissão. Tinha grandes sonhos, projetos de aperfeiçoamento no exterior e muita vontade de realizar tudo isso. Até a vida amorosa ainda não tivera espaço em sua vida, completamente direcionada ao trabalho e ao estudo.
Uma de suas primeiras missões na empresa foi a demolição de uma imponente residência, praticamente abandonada, num bairro de classe alta, onde eles iriam construir um edifício de luxo, com mais de trinta andares. Cristóvão já tinha tudo detalhado no papel e passava as informações para os operários quando seus olhos se detiveram em duas árvores quase simétricas no jardim, ainda com as cordas apodrecidas de um velho balanço preso entre elas. As madeiras coloridas da cadeirinha estavam desbotadas e semienterradas no canteiro, mas seu sangue gelou nas veias de uma forma esquisita. Olhou em torno, para o caminho calçado em direção à casa, quase tomado pelo mato e continuou com uma sensação estranha. Não entendia por que se sentia assim, ele não era dado a sentimentalismos nem a acreditar em almas do outro mundo, mas não se sentia confortável, uma angústia inexplicável estava tomando conta dele. Passou o lenço na testa, respirou fundo e procurou retomar as instruções aos peões. Envolvido no trabalho, dirigiu-se à casa, examinando as aberturas, o que seria aproveitado para vender como sucata e o que iria para descarte. Era uma mansão imponente, que certamente abrigara pessoas de alto nível e muito dinheiro. Pelo visto não havia mais ninguém para aproveitá-la, o único dono morava em outro país e queria se desfazer da residência, demonstrando pouco apego por ela e até certa pressa em se ver livre de parte do seu passado. A bela mansão não abrigara pessoas felizes e perdera o sentido maior de uma casa, que é o de conservar as risadas escorrendo pelas paredes, as vozes sussurrando no telhado, os passos estalando nos corredores e as lembranças dançando na memória, umedecendo os olhos, aquecendo o coração. Não havia ninguém para sentir isso ali.
Cristóvão andou por todo o andar de baixo distribuindo funções, em meio às marteladas e à poeira. Subiu a escada de mármore com restos de tapete nos cantos e passou a examinar a parte de cima onde o trabalho de demolição deveria começar. Num dos quartos havia uma régua colada à parede, com o desenho de um animal que parecia uma girafa. Cristóvão se aproximou, tocou o papel rasgado e novo calafrio percorreu seu corpo, ainda mais intenso. Estaria ficando doente? Que sensações eram essas, até então desconhecidas para ele? Como poderia uma casa velha e abandonada ter uma energia tão forte? Saiu dali abalado e tentou focar no trabalho.
De repente, um funcionário gritou lá do andar de baixo: – Doutor, vem só ver isso aqui! Cristóvão desceu as escadas, aliviado por se afastar da girafinha milimetrada e foi ao encontro do homem. – O que foi rapaz? – Olhe só o que encontrei debaixo dessas camadas de tinta! E passou um pano para mostrar a tampa de uma caixa de metal semelhante a um cofre, apenas com um cadeado grosso a trancá-la. Os operários pararam de bater e foram se aproximando. – Precisamos retirar a caixa da parede, diz Cristóvão. Com cuidado, pois não sabemos o que ela contém. Isso feito veio a dúvida, abrir ou não o cadeado? Cristóvão consultou seus superiores, que procuraram se comunicar com o tal parente que vendeu a casa, enquanto isso eles continuaram a demolição deixando a caixa num lugar protegido.
No fim do dia, veio a ordem. Era para abrir a caixa e verificar se continha algo de valor para remeter ao ex-dono. Os operários já se aprontavam para ir embora, tinham trocado a roupa e estavam sem as ferramentas, apenas um deles foi buscar um alicate para cortar o cadeado. A curiosidade era geral. Cristóvão tirou o cadeado cortado e abriu o ferrolho com as mãos trêmulas, ele que nem era dado a muitas emoções. Esse dia estava sendo atípico para ele. Uma força primordial o impulsionava e, ao mesmo tempo, tinha ímpetos de sair correndo dali. Dentro da caixa havia coisas inusitadas: roupas e sapatos de bebê, uma chupeta com a borracha escurecida, uma correntinha com a foto de uma criança de um lado e do outro um nome: CRISTÓVÃO.
Cristóvão cambaleou, precisando ser amparado pelos pedreiros. Não era só o nome, era tudo, desde o início, era como se ele já tivesse vivido ali, como se aquela casa já tivesse sido sua e tudo isso o deixava aturdido, sem saber o que pensar, nem como agir. Visivelmente alterado ele continuou mexendo no interior da caixa onde tinha também a foto de uma jovem com um bebê no colo e outra do menino – sim, era um menino, sentado naquele balanço do jardim na companhia de um senhor grisalho que sorria para ele. Quando parecia que o mundo iria desmoronar, Cristóvão, já em transe, encontrou um recorte de jornal lá no fundo. Ali estava escrito que a mansão tinha sido assaltada, o menino arrancado dos braços da mãe, que se suicidara meses depois de procurar e não conseguir encontrar a criança e que o avô morrera de desgosto pouco tempo depois da filha. Desde então a mansão fora fechada e ficara de herança a parentes distantes que raramente apareciam no país. As sensações que Cristóvão sentira desde o começo do trabalho demonstravam um resgate de algo que ele vivera e que ficara guardado em algum canto da memória. Voltar àquele lugar foi como uma queda vertiginosa numa história adormecida, numa casa que anda sempre conosco e que não é feita de madeira, tijolo ou cimento, mas de emoção, lembranças e saudade!
Cristóvão foi praticamente carregado para casa pelos funcionários. Estava incrivelmente pálido e abraçando com força a caixa de metal com seus tesouros. Chegando lá a mãe veio recebê-lo aflita ao ver seu estado. – O que houve meu filho? Que cara é essa? E que caixa é essa?
– Mãe, hoje é o meu aniversário, disse ele com a voz embargada. Acabei de descobrir que eu também nasci como todo mundo e não naquele berço de orfanato. Muros de amargura caíram por terra e ele se sentiu, enfim, de posse da sua vida. E chorou de verdade.

4.2. CONTO CLASSIFICADO EM SEGUNDO LUGAR NO 1º CONCURSO DE CONTOS ALMUB – 2020

DESTINOS E CLICHÊS
De André Luiz Soares

Fim de mês. Calor dos infernos. A segunda-feira começara esquisita naquela manhã de setembro de 1994. Logo cedo eu já havia discutido feio com Zenaide. Ela queria um par de botas Dolce & Gabanna. Perguntou se podia usar o cartão de crédito que tínhamos em conjunto. Neguei, alegando que o saldo estava quase estourado. Desapontada, mais uma vez ela me acusou de ser pão duro e sem sal. Falou que eu era um bobo; engomadinho; certinho; calminho. Tudo dito assim, com ênfase no inho, de propósito, para me diminuir — como se já não bastasse eu ter complexo de altura. Suas palavras me atingiram em cheio. Entendi que precisava tomar alguma atitude… mudar minha vida.
Nervosa, ela resmungou tudo o que quis. Eu apenas ouvi. De fato, esse era meu jeito desde sempre: passivo e previsível. Educado em colégio de padres, tinha o vício incorrigível de ser metódico. Odiava comprar a prazo. Pagava as contas rigorosamente em dia. Declarava o imposto de renda corretamente. Vivia de forma regrada: sem luxo, sem excessos. Jamais dava passo maior que a perna. Ímpetos, só quando se tratava do Vasco. Aí eu virava o diabo!
Calculista por profissão, eu não acreditava na sorte. Porém, talvez por buscar algo diferente, naquele dia, ao sair para o trabalho, deixando para trás o minúsculo apartamento na Rua do Outeiro, no Andaraí, fiz algo que jamais pensara em fazer: entrei numa casa lotérica e joguei uma única cartela na loteria esportiva.
Já no velho escritório de contabilidade, como fazia há duas décadas, trabalhei ainda com mais afinco — mesmo com seu Honorato, meu chefe, gritando e reclamando a todo o tempo, pelo fato de eu ter chegado atrasado. Não deixei por menos: reclamei que a máquina de calcular há muito estava obsoleta. Deixei claro que precisava de uma calculadora moderna. Quiçá, um computador. Contudo, ele sequer me deu ouvidos.
Rigorosamente ao meio-dia saí para almoçar no mesmo restaurante escuro e abarrotado, situado na Rua dos Inválidos, no Centro do Rio, o qual frequentava já há duas décadas. Coloquei o blazer cinza no encosto da cadeira e sentei-me à mesa. Pedi o mesmo prato de sempre — peixe cozido à base de verduras e legumes. Após a primeira garfada achei o sabor meio sem graça… igual a mim. Zenaide tinha razão. Definitivamente eu me reconheci sem sal. Agora, tudo que eu mais queria era dar uma guinada em minha vida.
Naquele exato momento, quatro lindas mulheres, vestidas de modo muito sofisticado, aparentando entre vinte e cinco e trinta anos, sentaram-se à mesa às minhas costas. Todos os olhares se viraram para elas. Animadas e sem perceberem o alvoroço que causaram, conversavam — em Inglês — sobre viagens internacionais. Ao se sentar, uma delas esbarrou em minha cadeira. Incomodado, olhei para trás. Meu blazer estava espremido pela luxuosa Louis Vuitton. Para não o amassar ainda mais, tentei puxar o pano. Foi quando percebi que a bolsa estava aberta. Formado em Ciências Contábeis pela Gama Filho, eu até que arranhava bem o idioma do Tio Sam. Pensei em avisar a moça, mas meus olhos se fixaram, mais ao fundo, no imenso maço de notas de cem dólares.
Olhei ao redor. As belas mulheres já haviam deixado de ser a novidade do dia. Ninguém mais ali as fitava. Envolvidas com seus próprios problemas, as pessoas devoravam as refeições sem se importarem umas com as outras. De súbito, percebi a oportunidade: bateu-me vontade incontrolável de puxar uma daquelas cédulas. Senti o rosto corar. Minhas mãos tremeram. Um resquício de culpa cristã quase me fez desistir. Mandei às favas as décadas de educação católica e, com leveza, baixei o braço direito. Com o esquerdo ergui uma colher limpa; improvisando-a como espelho. Apesar de côncava, a imagem me permitia acompanhar a movimentação na mesa das mulheres.
Sorrateiramente levei a mão até a bolsa e puxei a primeira nota, a qual amassei, metendo-a em seguida no bolso da calça. Eufórico, eu suava. Era preciso me acalmar. Respirei fundo dez vezes e retomei a empreitada. Enquanto elas falavam sobre hotéis e resorts em Cancun, puxei pra mais de dez cédulas. Espantado comigo mesmo, experimentava prazer inédito. Lembrei-me do quanto já criticara políticos e empresários desonestos e pude entendê-los perfeitamente. Roubar soou-me demasiadamente prazeroso. Decidi, então, que não me contentaria com pouco. Eu queria mais. Eu queria tudo! Resolvi pegar o restante do maço de dólares. Sem titubear, enfiei a mão na bolsa outra vez e puxei-o inteiro. Depois, com a mão já a frente, mas ainda encoberta pela toalha da mesa, meti o dinheiro nas calças.
Atônito, levantei-me e fui ao banheiro, onde rapidamente ajeitei o dinheiro na cueca, deixando no bolso apenas as notas amassadas. Por baixo do tecido as cédulas, todas novas, arranhavam-me a pele. Tal incômodo, porém, em nada se comparava ao prazer que experimentei ao perceber o volume que o maço fazia na parte frontal da calça. Sem dúvida, eu me senti mais macho.
Após enxugar o suor frio da testa retornei à mesa. Lentamente, fingindo comer, esperei as mulheres terminarem o almoço. Ouvindo-as com mais atenção, entendi que eram atrizes. Após curta temporada no teatro João Caetano, aquele era seu último almoço no Brasil. Dali mesmo iriam direto para o Galeão. Pelo que entendi, o próximo destino seria algum paraíso caribenho. Findo o almoço, tomaram caipirinha e, de sobremesa, ambrosia com coco ralado. Depois, levantaram-se, recolheram seus pertences e se encaminharam ao caixa.
De onde estava, vi quando uma delas pagou toda a conta, com cartão de crédito. A que portava a bolsa repleta de notas de cem dólares era, ao mesmo tempo, a mais distraída e a que mais falava — o zíper continuava aberto, enquanto ela explanava às amigas, em alto e bom tom, todas as belezas naturais das praias em Punta Caña.
Quando, enfim, as beldades estrangeiras sumiram porta a fora, sorvi o último gole do café expresso, deliciosamente doce. Exatamente como a vida me pareceu ser naquele momento. Levantei-me, vesti o blazer e, ainda em êxtase, já sonhando qual seria minha próxima aventura criminosa, entreguei o cartão de crédito à mulher do caixa.
– Débito ou crédito, senhor?
– Débito.
Pouco depois…
– Transação recusada, senhor! — disse a moça, esboçando cara de tédio.
– Passe no crédito, por favor…
E novamente…
– Transação recusada, senhor! — disse a moça, esboçando cara de tédio ainda maior.
Para mim era óbvio: Zenaide comprara o caríssimo par de botas Dolce & Gabanna, apesar de eu ter dito que não podia. Puto da vida, peguei de volta o cartão e, com certo ar de arrogância, joguei sobre o balcão uma das notas amassadas que estavam no bolso da calça. Funcionária nova, a mocinha antipática alisou a cédula de modo meticuloso; olhou-a contra a luz; depois, com impressionante displicência, falou:
– É falsa, senhor! — disse sem me olhar nos olhos.
Nervoso, peguei outra nota amassada e, cuidadosamente, pus sobre o balcão. Dessa vez ela sequer olhou a cédula contra a luz. Apenas virou-a de um lado e de outro, dizendo:
– Essa nota também é falsa, senhor!
– E como você sabe? — perguntei, já irritado.
– Senhor… esse dinheiro é de mentirinha… — seu rosto agora expressava baita ironia.
Na fila, atrás de mim, os clientes cochichavam. Senti mais suor gelado me escorrendo pela testa. Tentei negar, enquanto tateava o blazer à procura de outro dinheiro. A moça levantou a mão em direção a Aderbal — o segurança mal-encarado, de meia idade, militar da reserva. Ele, que sempre parecera uma estátua, mexeu-se com impressionante agilidade. Antes que eu pudesse reagir já me imobilizara por total, torcendo dolorosamente meu braço direito para trás.
Acionada, a polícia — que costumava demorar — apareceu de imediato, tornando concreta a complexa questão da relatividade do tempo. Ali mesmo, na frente dos fregueses, cuja maioria eu conhecia há anos, o policial me deu o baculejo, encontrando o maço de dólares falsos que eu enfiara na cueca.
Levado à delegacia, na Avenida Mem de Sá, tornei-me a chacota do dia. Em vão tentei explicar que aquele dinheiro, provavelmente, teria sido usado em alguma peça teatral. Sequer me deram ouvidos. Os agentes não entendiam como alguém tentara passar adiante aquelas notas de brinquedo. Apesar da convulsão de risos que causei, não fui poupado. Ávidos por mais informações, os policiais queriam saber onde o dinheiro fora impresso e quem mais o distribuía. Por não ter o que dizer, fui surrado algumas vezes, ao longo de três dias.
Preocupado com meu sumiço e o consequente volume de trabalho que se acumulara sobre minha mesa, na quinta-feira meu chefe ligou pra delegacia mais próxima. Após tomar ciência de toda a história, falou com o agente de polícia sobre o longo tempo em que eu trabalhava na firma. Seu Honorato tinha parentes influentes. Deve ter dito algo de positivo a meu respeito, pois fui solto logo em seguida; não sem antes ouvir o recado da boca de um dos meganhas:
– Você está livre. Mas seu chefe mandou dizer pra não aparecer mais no escritório.
Eu estava um lixo. Meu blazer ainda pior. Inteiro mesmo só o resistente Balmer & Mercier, única coisa de valor herdada de meu velho pai. Foi pura sorte os policiais não perceberam aquele relógio. Tirei-o do pulso, entrei em uma loja de penhores na Uruguaiana e o empenhei por qualquer ninharia. A prioridade era voltar pra casa; tomar um banho e explicar tudo a Zenaide.
De volta ao pequeno apartamento na Rua do Outeiro, no Andaraí, tentei em vão enfiar a chave na porta. A vizinha faladeira do 402 não tardou a aparecer.
– Meu senhor, a Zenaide trocou a fechadura…
– Por que ela fez isso?
– O senhor sabe. Ela é meio nervosa. Disse que o senhor sumiu…
– Eu sumi por três dias e ela já trocou a fechadura?
– É que… se não me engano, ela voltou pro Olavo… o ex-namorado…
No passado, Olavo fora um grande amigo. Fomos muitas vezes ao Maracanã. Juntos comemoramos muitas vitórias cruzmaltinas. Juntos disputamos o coração de Zenaide. Por conta disso deixamos de nos falar. Mas eu jamais sentira raiva dele. O que doeu foi a notícia dada por aquela fofoqueira. Aquilo me encheu de vergonha. Eu queria desaparecer.
Saí correndo. Na rua, sem saber onde ir, deparei-me com a imensa faixa, sobre o letreiro da casa lotérica, na qual se lia que o mais novo ganhador da loteria esportiva fizera o jogo naquele estabelecimento. Abaixo, em números garrafais, a quantia: dois milhões. Tateei o surrado paletó. Encontrei o bilhete no bolso interno. Pasmo, pensei: — azar no amor, sorte no jogo!
Dessa vez não me deixei dominar pelo ímpeto. Corri à banca de Jornal. Já com O Globo em mãos, separei o caderno de esportes. Joguei fora as outras páginas que, de imediato, foram levadas pelo vento. Um a um conferi os resultados. Todos certos. Exceto o último jogo. Com time completo, o Vasco perdera para o Bangu — três a um, em pleno Maracanã. Desolado, sentei na calçada. De repente, alguém toca meu ombro. Era seu Joaquim, o jornaleiro lusitano.
– Ei, gajo… já soubeste quem faturou sozinho o prêmio da loteria?
– Não… — respondi desinteressado.
– Ora pois… foi o Olavo, gerente da oficina mecânica… ex-namorado da Zenaide!
Tomado de ódio, ergui-me com a destreza de um macaco. Corri até a loja, na Barão de Mesquita. Invadi a gerência. E antes que ele pudesse esboçar reação, puxei Olavo pela gola da camisa, derrubei-o e comecei a esmurrá-lo sem dó. Só parei quando chegou a turma do deixa disso. Ainda assim, fiquei ali, em pé, esperando que ele dissesse algo.
– Foi ela quem me procurou! — gritou Olavo, moribundo e banguela.
– Que se danem! Pouco me importa que ela tenha voltado pra você!
– Então, o que houve? Você ficou louco?!
– Traidor! Você é vascaíno igual a mim. Como teve coragem de apostar no Bangu?!

4.3. CONTO CLASSIFICADO EM TERCEIRO LUGAR NO 1º CONCURSO DE CONTOS ALMUB – 2020

O visitante
De Ronaldo Dória dos Santos Jr.

Foram mais de seis horas de viagem até o centro da cidade. O pai do meu falecido amigo morava bem distante do centro, num distrito com pouco mais de cinco mil habitantes. Mais uma hora de viagem me aguardava.
O ônibus sacolejava na estrada esburacada. Não se via nada, era um breu quase absoluto de parte a parte. Ou poucos passageiros iam descendo. O motorista os ia deixando quase à porta das casas. Como podia aquela gente morar num lugar tão deserto? Matos e morros havia ali em abundância, e demorava-se muito tempo até que surgisse nova moradia.
Seu José me esperava no ponto final. Cheio de cuidados e atenções. Ele ia mostrando caminho e puxando prosa. Era já noite alta, a casa dormia. Quando chegamos, ele me mostrou o quarto que era de seu filho e recomendou que descansasse. No dia seguinte conversaríamos melhor.
Dormi um sono pesado e sem sonhos. Acordei com barulhos de criança fazendo artes e voz de mulher repreendendo. Levantei-me e fui cumprimentar os donos da casa. Lúcia – a jovem esposa do seu José e madrasta do meu amigo – se revezava entre cuidar da filha pequena e arrumar a mesa para o café da manhã.
Fui recebido com entusiasmo. Lúcia me disse que era quase como se me conhecesse, tanto que já ouvira falar de mim. Seu José era todo abraços e apertos de mão. A menina era a única que se fechava, desconfiada. A mãe me preveniu:
– Logo, logo a Joana tá pegada com você, num grude só.
Mesa farta, bolos e sucos. Tudo feito com esmero pela dona da casa. Agradeci efusivamente pelo carinho e hospitalidade.
– Deixe disso, rapaz! Não faça cerimônia!
Ele me levou para conhecer os arredores. Um cheiro de campo, de ar limpo. Corria sereno um riacho nos fundos do grande terreno. Praticamente todos se conhecem aqui nesse pequeno vilarejo. Ruas limpas, tudo calmo, em perfeita ordem. Meu anfitrião ia me apresentando aos amigos, contando os causos do lugar. Voltamos e havia gente nos esperando.
Seu José me anunciou como o grande amigo de seu filho, que tanto fez por ele, ajudando-o na universidade, aconselhando-o quanto aos perigos da cidade grande e dando-lhe morada em sua própria casa, como se fosse um irmão. Seus olhos iam se enchendo d’água. A emoção do pai em luto contagiava a todos. Para quebrar o clima de tristeza, começava a gabar-me as qualidades.
– É um cabra muito do inteligente. Até nas estranja esse moço já pisou!
No almoço a casa estava cheia. Aos domingos a casa sempre enchia, me disseram. Um falatório, uma bagunça que nem parecia o marasmo de todos os dias. A pequena Joana brincava com suas bonecas. Ofereci-lhe uma bala, ela pegou e saiu correndo de volta para as filhas de brinquedo.
Ao fim do dia, abri a mala e entreguei ao pai os pertences do filho. Ele recebeu tudo, mas preferiu não olhar. Certamente veria tudo quando estivesse sozinho. Falei-lhe da minha partida no dia seguinte, ele sugeriu que ficasse até terça-feira. Um compadre seu iria de carro até a rodoviária, me daria carona. Aceitei.
Na manhã seguinte, a mesma fartura. Reparava agora nos modos do marido para com a mulher. Não se via uma palavra de carinho, um agradecimento, uma gentileza. Era sempre aquele mesmo tom de mando, de patrão brigando com funcionário displicente. Ela, pelo pouco que eu sabia, vivia somente para a filha e para a casa, sempre metida em afazeres. Era mulher jovem, muito mais jovem que o marido. Que motivos teria seu José para toda aquela secura?
Nós nos despedimos depois do café. Abraçou-me, agradeceu a visita e pediu desculpas por não poder ficar até terça. Teria de tratar de assuntos de trabalho, estaria fora até o fim da semana. Mas que eu ficasse à vontade. A casa era minha. Beijou carinhosamente a filha e saiu sem de despedir da esposa. Joana já era minha amiga. Chamava-me de tio, pulava no meu colo, ria das minhas graças. A previsão da mãe se concretizava.
A menina cochilava depois do lanche da tarde. Era um sono sagrado, me dizia Lúcia. Ela estava com vontade de conversar. Falava do enteado, das coisas que ele contara a meu respeito. Sentou-se mais para perto de mim e me falou um bocado sobre sua vida. Nem parecia a mulher tão contida na presença do marido. Estávamos tão próximos no sofá que sua perna tocava de leve a minha. Mexia nos cabelos soltos. Perguntou dos tempos em que morei na Itália. Pediu-me que dissesse coisas em italiano. Eu corei. Desviei desses assuntos perguntando sobre a vida num lugar pacato como aquele. Não sabia bem o que fazer. Aquela mudança abrupta me deixava sem ação.
Chamaram no portão. Fiquei sozinho com minhas reflexões. Pensava em Lúcia, examinava de longe sua juventude. Parecia ter as carnes bem duras a madrasta do meu amigo. Senti vergonha dos meus pensamentos. Peguei um livro na mala, mas a concentração se esvaía. Por que o seu José tratava tão mal a esposa? Tão cordial com os amigos, tão gentil comigo. E aquela fala ríspida com a mulher. Uma mulher tão jovem, bonita. Deve sentir falta de cuidados de homem.
À noite, depois que a pequena Joana dormiu, ficamos a sós. Lúcia queria saber o que tanto eu lia. Estava vestida com roupas de dormir. Mostrei-lhe o livro de capa dura. Ela o examinou e pediu que eu contasse um pouco da história. Seu perfume era adocicado. Falava baixinho, como se temesse acordar a filha. Seu cheiro, sua proximidade, sua voz quase sussurrante e a visão das suas pernas me deixaram de coração aos pulos.
Levantei-me. Ela segurou minha mão, pedindo que ficasse e lhe fizesse companhia, mas desejei boa noite e entrei no quarto. Meu corpo inflamado implorava para voltar, fazer a vontade da moça. Mas um resquício de moralidade me impelia a fazer o certo.
Custava-me pegar no sono. Não tive tempo. Lúcia entrou sem bater, acendeu as luzes, foi tirando as roupas aos poucos. Eu olhava tudo como se estivesse num sonho. Uma parte de mim se perguntava o que tinha feito para merecer tal prêmio. Outra parte sentia medo. Ela sentou-se ao meu lado, nua. Tinha seios bonitos, firmes. Seios de mulher sem filhos. Beijou-me a boca, sua língua tinha gosto de vinho. Vislumbrei um quadro na parede, a pequena Joana nos braços do meu amigo. Eu não havia me dado conta do quanto eram parecidos. Um leve incômodo me assaltou, mas não pude levar o pensamento adiante. O corpo ardente de Lúcia e suas mãos sôfregas me procuravam, me requeriam. Naquele momento, eu era todo dela.

3. CORONAVÍRUS – CARTA DA PRESIDENTE DA ALMUB – 19.3.2020

Caríssimos empossandos e almubianos,

Desejando que estejam todos bem, e assim continuem, dirijo-me a vocês neste momento de apreensão, medo e tristeza que assola nossa cidade, nosso país e o mundo, para informar-lhes que estão canceladas todas as nossas atividades acadêmicas, até que a situação se normalize e tenhamos condições de retomá-las com tranquilidade e segurança.

Os empossandos que formalizaram suas intenções de posse já se considerem acadêmicos. Tudo está preparado para admiti-los. Tão logo tenhamos condições emocionais e logística para tal, faremos o evento de posse com todo o entusiasmo e a dedicação que os senhores merecem. Aguardamos com expressiva ansiedade, porque é um prazer imenso recebê-los em nosso meio e ver a Almub enriquecida com seus talentos.

O nosso grupo de leitura poderá continuar por meio do WhatsApp, como procedemos, com êxito, no dia 16, próximo passado e o Concurso de Contos também prossegue, aproveitem para escrever.

Está mantido normalmente o 1º Concurso de Contos Almub – 2020, conforme edital abaixo, uma vez que não é presencial.

Cuidem-se, fiquem atentos às orientações de precaução, mantenham a serenidade e a confiança na capacidade humana de ser resiliente. Tudo passa e essa pandemia também vai passar. Há uma Força Maior que nos protege e ela está também dentro de nós. Estarei rezando por todos nós.

Atenciosamente,

Basilina Pereira – Presidente da Almub

2. 1º CONCURSO DE CONTOS ALMUB – 2020

Importante: concurso mantido. Por não ser presencial, mesmo com a pandemia atual, o concurso está mantido. Edital sem modificações.
Última atualização: 22/03/2020

EDITAL Nº 01/2020 – Academia de Letras e Música do Brasil- Almub

Concurso de Contos

1 – DA REALIZAÇÃO E OBJETIVO:

1.1 – O presente Concurso será realizado pela Academia de Letras e Música do Brasil – Almub e terá por objetivo incentivar e divulgar a produção literária em todo o território nacional.

2 – DA PARTICIPAÇÃO

2.1– Poderão participar do presente certame todas as pessoas físicas maiores de 18 anos, residentes no Brasil ou fora dele, desde que os trabalhos sejam enviados em Língua Portuguesa.
2.2 – Menores de 18 nos também poderão participar, mediante autorização escrita dos pais ou responsáveis, acompanhada de cópia da identidade dos mesmos para conferência e registro da inscrição.

3 – DA INSCRIÇÃO

3.1. – As inscrições serão abertas em 10.03.2020 e encerrarão em 30.06.2020. O autor deverá ser titular dos direitos autorais do conto por ele enviado e responderá por fraude ou plágio nos termos da Lei dos Direitos Autorais.
3.2. – Ao inscrever-se, o participante concorda com os termos deste Edital e autoriza a publicação do seu texto na página do Facebook e no site da ALMUB, ou outro meio de comunicação virtual ou não, desde que mantida a autoria e a referência ao Concurso.
3.3. – Cada autor poderá participar com apenas 01 (um) conto, o qual deverá estar datilografado em tamanho 12, espaço 1.5, fonte Arial, contendo, no máximo, 04 páginas, incluídos o título e as linhas intermediárias.
3.4. – O tema será de livre escolha de seu autor e o conto deverá ser inédito, ou seja, não poderá ter sido publicado em nenhum meio de divulgação, quer ser impresso em papel, quer seja por meio virtual.
3.5. – Não será cobrada taxa de inscrição.

4 – DO PROCEDIMENTO

4.1- Os textos deverão ser enviados para: AlmubAcademia@gmail.com, em um anexo separado, contendo apenas o conto e o pseudônimo do autor. O pseudônimo não pode ser parecido com o nome do autor, nem uma abreviatura dele.
4.2 – Em outro anexo, deverão vir: os dados pessoais do autor: nome completo, endereço, telefone, e-mail, RG, o título do conto e o Pseudônimo.
4.3 – Caso não sejam observados os critérios do Edital, o participante será desclassificado.

5 – DO JULGAMENTO

5.1 – O júri será composto, numa primeira fase, de, pelo menos, 3 Julgadores, sendo essas pessoas de alto gabarito na área das Letras ou escritores, a critério da Diretoria da Almub.
5.2 – Do resultado não caberá recurso.
5.3 – Serão selecionados, na primeira etapa, 10 finalistas. Esses escolhidos serão submetidos a novo escrutínio para definir quem serão os 03(três) primeiros classificados.
5.4 – Não poderá haver empates.

6 – DA PREMIAÇÃO

6.1 – O 1º classificado receberá o valor de R$500,00 (quinhentos reais), quantia essa paga até 30 dias após a divulgação do resultado do concurso, em cheque nominal, caso o vencedor se faça presente ou mediante depósito bancário em conta indicada pelo beneficiário. Terá também participação sem custos na próxima coletânea organizada pela Almub, além de divulgação na página do Facebook e no site da Academia, (almub.com.br), com alusão ao Mérito e ao concurso.
6.2 – Os classificados em segundo e terceiro lugares receberão livros, participação sem custos na próxima coletânea a ser organizada pela Almub, além de divulgação na página do Facebook e no site da Academia, (almub.com.br), com alusão ao Mérito e ao concurso.
6.3 – As menções honrosas terão seus contos divulgados na página da Almub no Facebook e no site da Almub, sucessivamente, com alusão ao Mérito e ao concurso.

7 – DO RESULTADO

7.1 – O resultado será divulgado na página oficial da Almub no Facebook e no site (almub.com.br), até o dia 30 de novembro de 2020.

8- DOS CRITÉRIOS

8.1 – Os critérios de avaliação serão: criatividade, originalidade, conteúdo, correção gramatical, além de demonstrar conhecimento das técnicas para escrever um conto.
8.2 – Membros da Almub poderão participar do certame, desde que não façam parte da Comissão Julgadora do Concurso, nem tenham parentes de primeiro e segundo graus nessa condição (julgadores). São parentes de primeiro grau: pai, mãe, filhos e cônjuge ou companheiro(a) e de segundo grau: irmãos, avós, (do candidato e do cônjuge/companheiro(a)) netos, (do candidato e do cônjuge/companheiro(a)) e cunhados.

9- DAS OMISSÕES

9.1 – Os casos omissos serão decididos pela Diretoria da ALMUB, por maioria simples.

Brasília, 10 de março de 2020

Basilina Divina Pereira – Presidente da Almub

1. Posse de novos membros – suspensa por tempo indeterminado em razão do coronavírus.
Última atualização: 22/03/2020

Membros antigos deverão levar pelerine e medalha para foto oficial a ser publicada no site da Almub.

Grupos de novos membros que se apresentarão:

1. Sergio Morais (flauta solo)
Fantasia Carinhoso para flauta solo – Altamiro Carrilho

2. Daniel Marques (viola solo)
Capricho “Hommage à Paganini” – Henri Vieuxtemps

3. Ariadne Paixão (flauta) e Dib Franciss (piano)
Zinha Polka Op. 8 – Patápio Silva (1880-1907)

4. Carlos Gontijo (saxofone) e Antonio de Paula – “Toninho” (piano)
Valsa Triste – Radamés Gnattali

5. Sammille Bonfim (flauta) e Deyvison Miranda (piano)
Fantasia, Op. 79 – Gabriel Fauré

6. Janette Dornellas (voz) e Deyvison Miranda (piano)
Canção do Amor, do ciclo Floresta Amazônica – Heitor Villa-Lobos.
Poesia de Dora Vasconcellos

7. Kathia Pinheiro (violino), Paulo Cesar V. Xavier (violino), Rodolpho Borges (violoncelo) e Elza Kazuko Gushikem (piano)
Trio Sonata in G major – Giovanni Battista Pergolesi (b.1710-1736)

8. Marcos Cohen (clarineta), Norma Parrot (violoncelo) e Fernando Calixto (piano)
Trio para Clarineta, Violoncelo e piano, Op. 114 – Movimento I – Allegro – J. Brahms