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Escritor colombiano, mestre do realismo fantástico, Gabriel Garcia Márquez é detentor de vários prêmios, incluindo-se o Nobel de literatura em 1982.

Em doze contos peregrinos, gabo, como era conhecido, constrói seus enredos baseados em tragédias da vida cotidiana, e mistura o destino com acontecimentos sobrenaturais, tão presentes em sua obra. Os contos são, portanto, uma mistura do real e do fantástico.

No prefácio, o autor nos informa que durante anos, tomou notas de temas diversos sem ter noção de qual rumo daria a eles. De 64 temas, ficaram 18 e, posteriormente, 6 foram jogados no cesto do lixo, ficando apenas doze.

Os contos têm um traço comum: são histórias de peregrinos latino-americanos na Europa que trazem consigo o colorido da terra natal em seus anseios e sonhos. As situações beiram ao extraordinário ao retratarem amores e desejos, fazendo seus personagens viverem a monotonia da vida de forma altiva permeando os acontecimentos com a fantasia, igualmente honrosa. Com grande habilidade, o autor constrói personagens complexos e empáticos.

Garcia Márquez procurou a unidade de tom, de ritmo e de estilo como uma recorrência de imagens, tornando os contos lineares numa visão panorâmica na memória do leitor. Alguns deles foram transformados em roteiros de cinema e em seriado para TV.

Ressalto os contos que mais me agradaram:

1- Só Vim Telefonar, a história de Maria de La Luz, uma mexicana bonita, que por conta de uma pane em seu carro, no meio de uma estrada deserta, pega carona num ônibus que levava mulheres de volta para um manicômio. Ao chegar, inutilmente, ela tentou identificar-se, dizer que ela só queria telefonar ao marido, mas, desacreditada, teve um trágico destino: permaneceu como uma das pacientes do local. A maior decepção da mulher, quebrando suas expectativas de ser libertada, é que o marido, ao visitá-la foi convencido de que ela precisava do tratamento. Impossível não se compadecer da personagem.

2- Maria dos Prazeres é um conto que beira à realidade. A história que se inicia no Brasil, onde ela, aos 14 anos, foi vendida por sua mãe no porto de Manaus, para um oficial da marinha. Ela foi abandonada na zona de prostituição em Barcelona, sem amigos e sem dinheiro. Aposentada, com mais de 70 anos, tinha obsessão pela morte, por conta de alguém que leu o seu destino. Daí, ensinou seu cachorrinho a chorar por ela e a visitá-la no cemitério. Vários acontecimentos se mesclam e ela termina nos braços de um jovem homem que havia lhe dado carona na volta de uma visita ao cemitério. Foi então que ela percebeu que havia se enganado quanto à premonição: que seu destino não era ainda a morte.

3- Outro conto que me impactou foi O Rastro de seu Sangue na Neve. Trata-se de um casal que sai em viagem de lua de mel. Eles viajam para a França no luxuoso carro que Billy Sanchez, seu marido, ganhou de presente do sogro. Ao receber um bouquê de flores, Nena Daconte, a jovem noiva de 18 anos, furou um dedo com um espinho. Viajaram por mais de dez dias e Billy encantado com o carro de luxo, não percebeu que o dedo da esposa não parava de sangrar, desde que saíram de Madri. Estava nevando. O dedo sangrava tanto que ao colocá-lo para fora da janela do carro, Nena percebeu que deixava um rastro de sangue. Ela falou: se alguém quiser nos encontrar só vai ter que seguir o rastro do meu sangue na neve. Quando chegam a Paris, a jovem é internada e não pode receber visitas por uma semana. Quando seu marido consegue, por fim, visitá-la constata que ela havia morrido. Uma história cheia de ternura e tristeza.

4- A Santa é uma história fantástica. Margarito Duarte, ao tentar transferir o corpo da filha, de sete anos, do cemitério, por conta de uma represa que ia ser construída no local, descobriu que o corpo, levíssimo, estava intacto no caixão. Até as flores estavam frescas e perfumadas. Ela havia morrido de uma febre desconhecida. Logo a notícia se espalhou no vilarejo e o bispo se interessou porque seria muito importante ter uma santa colombiana. Todos se reúniram para enviar Margarito com o corpo da filha para Roma a fim de ela ser canonizada. Assim, ele partiu com a filha dentro de uma caixa que parecia um estojo de um saxofone. A sua luta é inglória e repleta de empecilhos, como a morte de cinco papas que impediram acesso ao pedido de santificação. Por sua persistência, 22 anos esperando, Margarito é descrito como “o personagem em busca do autor”.

Sabemos que os livros de Gabriel Garcia Márquez são reconhecidamente marcantes, como Cem Anos de Solidão, o Amor nos Tempos do Cólera, (um belíssimo romance de uma história de amor), O Outono do Patriarca, Crônica de uma Morte Anunciada, dentre outros. Doze Contos Peregrinos é um livro de contos narrados com a maestria que lhe é peculiar, e do qual eu recomendo a leitura.

Por Norma Bezerra – Cadeira 20 – Patrono: Ariano Suassuna.