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Por Basilina Pereira

A primeira vez que li Os Famosos e os Duende da Morte de Ismael Caneppele fiquei muito impressionada. Primeiro por tratar-se de um livro diferente, quanto a forma de narrar, ou seja, com interrupções e supressões de palavras finais, o que não chega a prejudicar o fluxo da narrativa porque a ideia implícita traduz perfeitamente o que, supostamente, está na cabeça do narrador e pode ser entendido com a ajuda do leitor.

As palavras do autor são diretas e certeiras, mas é a sua sensibilidade e a linguagem poética que me motivaram a seguir com a leitura. O livro retrata com muita realidade os sentimentos de um adolescente, que vive o conflito entre ficar e partir, pertencer e negar. Vemos um retrato das inquietações do jovem atual e sua relação com a internet, na eterna busca de uma identidade, onde os pixels são uma realidade que se mistura com a vida real.

Como gostei deste livro! Nesta segunda leitura, parece que me encantei mais ainda. Poesia e sensibilidade à flor da pele. Tem paixão e compaixão. Ele revela onde doem as suas e as nossas feridas, expõe sem reservas os seus e também os nossos medos, anseios e inseguranças. Ismael é fluente. Corre solta a sua prosa. Transparente. De quem se mostra sem reservas. Com verdade. A gente avança por suas páginas, com vontade de transformar tudo em poesia. Ele tem frases lapidares. Sublinhei e anotei várias. O autor se mostra grande em simplicidade e autenticidade e, para mim, tudo que é verdadeiro supera, transpõe.

Este livro: Os Famosos e os Duendes da Morte virou filme homônimo, dirigido por Esmir Filho, grande vencedor do Festival do Rio em 2009. O tempo da narrativa ocorre durante três dias na pele de um adolescente, cujo nome não é revelado, e é fã de Bob Dylan. À beira de deixar a cidade em que vive, ou seja: ele já começa a narrativa entregando-se. Tudo se distanciando. Tudo desaparecendo. Penetrando no esquecimento. Já sabemos do nosso destino. Desde menino, o fim.

Mas não se trata de um livro fatalista. Nem pessimista. Ele é real. A vida, essa estrada tortuosa que percorremos. No filme, inclusive, Bob Dylan chega a ser trilha e personagem. Ismael é inventor de linguagem. É autor que, definitivamente, me conquistou.

A narrativa em forma de fluxo de consciência traduz exatamente a forma afoita e desconexa dos adolescente em sua ansiedade de descobrir o mundo, atropelar os acontecimentos, saltar de um assunto para outro e mudar de interesse também. E as dúvidas? Vejam quantas vezes ele usou a palavra talvez.

Há sim alguns erros de português que, eu creio, foram propositais, a exemplo do falar regional do gaúcho que usa o tu com o verbo na terceira pessoa.

A considerar também o fato de que nenhum adolescente fala com português escorreito em uma conversa informal com os amigos.

​Frases que destaquei:

1 – O mundo acontecia longe demais de onde estávamos, pg 9.

2 – Estar perto não é físico, pg 11.

3 -Longe é o lugar que a gente pode viver de verdade, pg 11.

4 – Ninguém sabe tudo sobre ninguém, pg 12.

5- O mundo sempre encontra um jeito de acontecer, pg 15.

6 -O cheiro sobre a luz laranja dos dias, caindo devagar do outro lado do

muro era um filme que eu nunca mais veria, pg 18.

7 – Nossos assuntos perderam-se em algum momento, pg 19.

8 _ Respirar machucando por dentro, pg 25.

9 _ Talvez eu não estivesse sozinho dentro dos meus pensamentos, pg 29.

10 – A cidade era o filme parado depois do susto, pg 31.

11 -A pior dor é a dos que voltam. É a dos que ficam. Pg 32.

12 – Os que seguem por inércia não perguntam para onde vão, pg 32.

13 – Sobreviver não significa estar a salvo, pg 34.

14 – É preciso ter alma para aceitar perder, pg 37.

15 -O vento entregava a resposta para a pergunta que eu não tinha coragem de, 37.

16 – Num lugar que talvez exista perto, pg 44.

17 – A cidade dentro da tarde. O meu rosto trancado dentro das fotografias, pg 53.

18 – O relógio da torre da igreja arrastava as esperas, pg 58.

19 – Se a nossa alma fosse ferida, ninguém perceberia as cicatrizes, pg 63.

20 – Talvez a minha vida me esperasse em algum lugar, onde não havia mais como chegar, pg 66.

Basilina Pereira – (cadeira 26) – Letras – Patrono: Olavo Bilac