SONO, DE HARUKI MURAKAMI
É um livro de fácil leitura! Aliás, o primeiro, durante a existência do nosso Grupo, que eu li em um dia! Gostei muito da formatação, das ricas ilustrações, do tipo de texto e da escrita do autor (como um bom contador de histórias). Estes insights facilitaram em muito a compreensão. Sem sombra de dúvidas, é um livro diferente e interpretativo, como perceberam.
Nos deparamos com uma Protagonista sem nome, e em uma jornada de autoconhecimento. Era uma mulher com vida, marido e filho, aparentemente, normais.
Quando ainda muito jovem, teve um período em sua vida, que não conseguia dormir. Parecia que havia perdido a sua energia e funcionava no “piloto automático”. Esse período passou, e a Protagonista prosseguiu sua caminhada. A forma como ela descreve a sua rotina é fria e dura!
A impressão que nos passa é de que “as coisas” no seu casamento, não ocorreram da maneira que ela esperava, embora amasse seu marido e o seu filho.
A sua “estranha insônia” retornou e logo a sua percepção sobre o mundo dá uma reviravolta e ela passa a repensar suas escolhas! Começa a achar que não fez nada de relevante em sua vida, e passa a observá-la por um novo enfoque.
A narrativa se inicia com alguém conformada com o seu dia a dia, mas no desenrolar da história, muitos fatos acontecem.
O Prognóstico que o autor faz tentando desviar o “ foco”, para a Leitura do Romance Anna Karenina, pela Protagonista – Achei fantástico! Pois, sabemos que algumas pessoas, que têm insônia costumam ler, durante a noite. E eu me pergunto – Será que a Protagonista, se identificava com a história de Anna Karenina?… Creio que deve haver algum link! Não?… A identificação dela, com este tipo de Romance de Tolstói, não deve ser à toa.
Quem sabe, a Anna Karenina era uma mulher forte, comunicativa, feliz, corajosa e resiliente, e a Protagonista não se via assim?… Dá-nos a entender que ela tinha problemas psicológicos., etc… pois, não conseguia dormir, e assim, não podia se renovar ou mesmo, descansar, como a maioria das pessoas normais.
A história termina com a Protagonista saindo de casa, com o carro de seu marido, deixando para o leitor muitas margens de interpretação. É impossível interpretar a escrita de “SONO” ao pé da letra. Tudo é muito simbólico! Todo o Livro é aberto a interpretações, quer literais ou metafóricas.
Às vezes, chegamos a pensar que a Protagonista parece “delirar” misturando a realidade ao seu problema de não conseguir dormir (a falta de sono). Já no final da história, quando estava no Parque, parece “entrar em parafuso”. Não se sabe, ao certo, se ela estava delirando, ou até “pirando,” de vez!
O livro mexe muito com as emoções, o lado psicológico, e creio até que alguns leitores ficaram muito ansiosos.
E sobre o excesso de consciência, por parte da Protagonista, isto é benéfico?… – A Protagonista não dormia, não compartilhava nada com o seu marido, ficava lendo a noite inteira e passou a viver o mundo dela.
Será que o excesso de consciência fez com que ela confundisse o sono (ou seja, a realidade), com as alucinações?…
Podemos chegar à conclusão de que o Livro não se encerra numa única situação. Ele deixa vários questionamentos, inclusive, sobre a morte (um eterno estado de consciência).
– E nós… temos consciência dos momentos que estamos vivendo?… Ou fazemos tudo no automático?… Será que estamos acordados para as nossas vidas?… – Cada pessoa percebe, de maneira diferente, as questões da lucidez, ou mesmo da consciência.
Por fim, é um livro para se pensar/refletir muito… Como dito, anteriormente, não dá para se interpretar a escrita dele “ao pé da letra”. É uma história, no mínimo, instigante e que nos deixa mais voltados para perguntas do que para respostas. Talvez, até carecesse de algumas páginas a mais. Como por exemplo, a narrativa da relação da Protagonista com o seu filho.
Para mim, uma das frases marcantes do Livro: — “Viver e não conseguir se concentrar é o mesmo que estar de olhos abertos, sem poder enxergar”.
Meireluce Fernandes – Presidente da Academia de Letras e Música do Brasil – Cadeira 13 – Letras – Patrona: Cecília Meireles